Da Redação



"Que queres, Senhor, que eu faça?"

Ronaldo Pereira Rodrigues

01-5-2020
“...Trêmulo e atônito, disse Saulo: ‘Senhor, que queres que eu faça?”Atos 9.

Quando Saulo de Tarso saiu naquele dia em direção a Damasco, levando consigo as ordens do Sinédrio para prender todos os seguidores do Cristo naquela região, principalmente o líder, que tinha o nome de Ananias, jamais imaginaria que a sua romagem seria o berço da sua conversão.

Saulo ainda guardava no seu íntimo os sentimentos tortuosos de ódio e revolta que passeavam em sua mente como quadros de um filme que se repetia constantemente ao saber que mandara assassinar Estevão, seguidor do Cristo, sem a cognição que este era irmão de sua amada noiva, Abigail. Porém, o que lhe doía mais era ver nos olhos do cunhado agonizante a compaixão por ele assinaladas nas suas últimas palavras. E com o orgulho assoberbado diante de tal situação Saulo fez questão de consolar sua noiva querida com palavras duras, sinalizando que naquele momento, entre eles, estava tudo acabado.

Carregava assim, o doutor de Tarso, o coração corroído pela dor e pela crença de que algo não fazia sentido em sua vida de perseguição e morte. Não atinava a compreensão de como o seu supliciado não atirara contra ele nenhum anátema, nenhum impropério, ao invés disso, outorgou-lhe perdão.

E diante da luz que o cegara naquele deserto e do estrondo que o fez cair de joelhos, a consciência humilhada diante da voz que o alertava, se fez convertida e desarmada, verbalizada de maneira humílima em tom de submissão: “O que queres, Senhor, que eu faça?”

O arrependimento se fez genuflexo diante daquele que, doravante, seria por ele chamado de Mestre.

A cegueira física fora curada por Ananias, seu perseguido, porém a cura de sua cegueira moral tivera início naquele momento. O convertido de Tarso, de agora em diante seria chamado de Paulo, o Apóstolo dos Gentios.

Começara assim, sua jornada de dor, sofrimento, rejeição, renúncia e abnegação em veredas tortuosas de pedras e espinhos, sangue e lágrimas, mas fortalecidas no amor ao Cristo.

Carregou a sua cruz sem reclamar até os últimos momentos, terminando o glorioso Ministério Redentor e guardando a fé rediviva e inabalável.

E hoje, diante de todos os acontecimentos que a humanidade passa, onde a doença e a morte rondeiam nossa porta, será que temos coragem de dizer ao Pai Maior: “Senhor, o que queres que eu faça?”

O que queres que eu faça Senhor, diante do medo e temor que tomou a todos?

O que queres que eu faça, Senhor, diante das incertezas que tentam corroer as raízes da minha fé?

Como ser um verdadeiro Cristão, diante da dor, do sofrimento, tristeza e angustias que passam meus irmãos de marcha?

Como fechar meus olhos, perante os flagelos que ceifam vidas e dilaceram corações?

Onde encontrar ferramentas para amenizar a dor do meu próximo, sem poder abraçá-lo nem tocá-lo com as palavras do Cristo?

E assim, nesse momento de questionamentos, me vejo diante de Ti, de joelhos e olhos marejados, com o único e abençoado instrumento que possuo, deixado pelo Mestre amigo para consolo e amparo de todos: a prece.

E rememorando a prece feita pela nobre noiva de Saulo, cujos braços acalentavam o irmão agonizante e abençoado, guardando-o em seu regaço fraterno, fitando o autor com o olhar molhado pelas lágrimas pungentes em súplica amorosa ao Pai Maior, clamou:


"Senhor Deus, pai dos que choram, 
Dos tristes, dos oprimidos,
Fortaleza dos vencidos
Consolo de toda dor!
Embora a miséria amarga
Dos prantos de nosso erro,  
Deste mundo de desterro
Clamamos por vosso amor!
Nas aflições do caminho,
Na noite mais tormentosa,
Vossa fonte generosa
É o bem que não secará…
Sois, em tudo, a luz eterna 
Da alegria e da bonança,
Nossa porta de esperança
Que nunca se fechará.
Quando tudo nos despreza
No mundo da iniquidade,
Quando vem a tempestade 
Sobre as flores da ilusão!
Ó Pai, sois a luz divina,
O cântico da certeza
Vencendo toda aspereza,
Vencendo toda aflição.
No dia da nossa morte,
No abandono ou no tormento,
Trazei-nos o esquecimento
Da sombra, da dor, do mal…  
Que nos últimos instantes, 
Sintamos a luz da vida
Renovada e redimida
Na paz ditosa e imortal."
-o-




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