Da Redação



Vladimir Polízio

"MORATÓRIA(1) - Como entender?"

29-8-2020

Este é um dos assuntos que nos parece muito mal interpretado.

O termo enseja que entendamos ser possível, para alguns casos especiais, que o Espírito permaneça encarnado por mais um período de tempo na Terra, com uma finalidade justa a fim de concluir o que gostaria de resolver ou pelo menos sentia essa necessidade.

Para esses casos, se assim fosse, seria uma importantíssima oportunidade que o Espírito ganharia e uma grande dádiva oferecida graciosamente a alguém. Certamente que nessas situações, segundo pessoas esperançosas e que assim pensam, haveria a necessidade de que alguém fizesse suas rogativas dirigidas ao Senhor da Vida, ao Criador, em nome dessa pessoa que "estaria precisando desse tempo em seu benefício", por motivos dos mais diversos.

Mas, sendo assim, como ficariam as outras milhares de pessoas que desencarnam todos os dias, no mundo todo? Como se sentiriam esses outros, sabendo que essa "moratória" é possível para casos especiais, ou seja, que ela existe?

Entendemos que esse ponto constitui-se num verdadeiro entrave.

No espiritismo não há meio termo nem respostas ajustadas que venham atender ou favorecer as pessoas que possuem as suas preferências.

Moratória nos parece favorecimento e essa "modalidade de conquista" não faz parte do entendimento doutrinário, não como está sendo compreendido e levado em conta a sua existência. "Todo privilégio seria uma preferência e toda preferência, uma injustiça"(2).

O Livro dos Espíritos, considerado a espinha dorsal da Doutrina, é muito claro e não deixa dúvida sobre o assunto, no que concordamos plenamente, pois privilégios não podem existir em algo em que se deposite uma forte confiança, como é o caso da orientação que nos vêm do Alto. Nascimento e morte, dizem os benfeitores, são os únicos acontecimentos imutáveis em nossa vida na Terra. "Nada há de fatal" - dizem eles - "no verdadeiro sentido da palavra, senão o instante da morte. Quando esse momento chega, seja por um meio ou por outro, não podeis dele vos livrar"3). "A fatalidade, verdadeiramente, não consiste senão na hora em que deveis aparecer e desaparecer neste mundo"(4). Continuando nessa mesma linha, eles complementam: "Tu não perecerás, e disso tens milhares de exemplos. Mas, quando é chegada a tua hora de partir, nada pode subtrair-te dela"(5).

Ainda temos, a força maior desse questionamento, sob o amparo do Evangelho de nosso Mestre Jesus, no Cap. 6, versículo 27, com as anotações do apóstolo e evangelista Mateus, essa sagrada e grave observação: "Qual de vós poderá, com todos os seus cuidados, acrescentar um côvado(6) à sua estatura? Eis então algo que não se pode acrescentar a alguém, não importando quem seja e quantas súplicas vibrem em seu benefício. Assim fosse, com a facilidade de se conquistar mais algum tempo, curto ou longo, os acontecimentos ocorreriam ao sabor do momento de cada um ao ser chamado de volta ao mundo dos Espíritos.

Alegam os interessados que a oração tudo pode, tudo consegue! Sim, não há que se ter nenhuma dúvida nesse poder que a oração oferece a todos nós. Ela ajuda, sim, e muito, mas muito mais do que se acredita. O maior recurso para se acalmar, para retomar o ânimo, para aquisição de energia, de força, etc..., é através da oração; "Cultivemos a prece. Para as sombras de nossa alma, a oração será sempre libertadora alvorada, repleta de renovação e de luz”(7); “Todos temos a prece à nossa disposição como força de recuperação e de cura”. Dizer porém que poderá mudar o rumo do que já está traçado, há um distância respeitosa.

Muita paz a você, que neste momento está absorvendo as vibrações de equilíbrio e saúde.

-o-

(1) Moratória: Que envolve demora ou dilação de prazo. Neste caso, um tempo maior de vida do que o previsto.

(2) O Evangelho segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, Cap. IV nº 25.

(3) O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, Questão-853.

(4) O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, Questão-859.

(5) O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, Questão 853a.

(6) Côvado: Medida que equivale a 66cm.

(7) Vozes do Grande Além, de Espíritos diversos (Eustáquio), por Chico Xavier.




Vladimir Polízio
polizio@terra.com.br

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